March 14, 2012
Mark Weisbrot
Folha de São Paulo (Brasil), 14 de março, 2012
Uma das mudanças mais importantes que Lula da Silva trouxe para o Brasil foi na política externa. Como ele mesmo descreveu, os governos anteriores olhavam quase que exclusivamente para os Estados Unidos ou Europa para sua orientação no mundo. Mas Lula viu que havia muito a ser ganho em um mundo de relações Sul-Sul, incluindo, naturalmente, a integração latino-americana, bem como na confiança nas escolhas e capacidades do próprio Brasil.
Estes esforços têm frequentemente envolvido confrontar os Estados Unidos e seus aliados do grupo G-7, como quando o Brasil ajudou a liderar a saída dos países em desenvolvimento das negociações da Organização Mundial do Comércio em Cancun, em 2003. O Brasil também entrou em conflito com a política externa dos EUA: na América Latina, na Área de Livre Comércio das Américas, devido ao apoio do Brasil a Bolívia e Venezuela, a sua oposição à expansão das bases militares na Colômbia e o golpe militar de 2009 em Honduras; e no Oriente Médio, onde o Brasil está tentado diminuir a marcha para a guerra com o Irã.
O Banco Mundial é uma das mais importantes instituições multilaterais que impacta o mundo em desenvolvimento, e sempre foi controlada por Washington, com o seu presidente escolhido em um processo secreto pelo governo dos EUA. Começando em 2007, quando o arquiteto da guerra do Iraque, Paul Wolfowitz, renunciou à presidência do Banco em um escândalo, o Brasil pede por um “processo aberto, democrático e transparente … com base nos méritos de uma pluralidade de candidatos, independentemente da nacionalidade”, para escolher o presidente.
Agora, pela primeira vez em 68 anos, há um desafio aberto, do economista Jeffrey Sachs. Em poucas semanas, ele ganhou o apoio de seis países. Se escolhido, Sachs seria o primeiro presidente do Banco Mundial, que é qualificado para o trabalho. Todos os presidentes anteriores eram banqueiros, indicações políticas, ou pior. Sachs, por outro lado, passou a última década, promovendo o desenvolvimento nos países pobres. Ele foi um importante defensor do Fundo Global contra AIDS, Tuberculose e Malária, que já salvou milhões de vidas. Ele também foi um forte defensor do cancelamento da dívida dos países pobres. Seu projeto Millennium Villages (Aldeias do Milênio) mostrou que a ajuda externa pode ser usada de forma construtiva e integrada, para aumentar a produtividade agrícola e reduzir o número de vítimas de doenças.
Claro, Sachs ainda é um estadunidense, e muitos preferem alguém de um país em desenvolvimento. Mas nenhum candidato com essas características foi nomeado, e o processo de nomeação encerra em uma semana. Então a escolha é entre Sachs ou outro indicado político de Washington – Larry Summers aparenta ser a primeira escolha neste ponto – que vai fazer o que o governo dos EUA e suas corporações querem. Sachs, por outro lado, é independente de ambos os partidos políticos dos EUA e de seus patrocinadores corporativos, e não hesitou em enfrentar todos esses interesses quando necessário.
Países pobres como Quénia e Timor-Leste arriscaram serem castigados por Washington por indicarem Sachs, o Brasil é muito menos vulnerável e terá muito mais impacto se apoiar o primeiro candidato independente e qualificado para o trabalho.
Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy, passa a escrever quinzenalmente às quartas-feiras. A versão acima foi traduzido por Roland Di Biase Francisco direta versão em Inglês da página do CEPR.